segunda-feira, 2 de junho de 2014

Quando os filhos vão morar com o pai

A decisão está tomada: as crianças vão para a casa do pai e ficarão longe da mãe no dia a dia. Como lidar com a mudança?

    
Filho morando com o pai
Imagine a seguinte situação: você se divorciou e os filhos decidem viver com o pai. O coração ficou apertadinho? Pois essa é uma possibilidade. E a vontade não parte só dos pequenos.
“Embora a nossa cultura ainda acredite que é a mãe quem deve ficar com a criança, existem outras opções. O pai permanecer com o filho é uma delas”, afirma a psicóloga Riva Gelman, especialista em Terapia Familiar Sistêmica.
Os motivos para a tomada dessa decisão podem ser os mais diversos: necessidade financeira, a busca de novas oportunidades profissionais por parte da mãe, outro relacionamento - todos importantes para a mulher.
Como fica a cabeça das crianças?
Tudo acertado para que a mudança seja feita? Não existe receita pronta para a transição da casa da mamãe para a do papai. Independente do motivo, você e o pai devem dar a notícia ao mesmo tempo.
“O mais importante é passar para os filhos que os pais estão juntos nessa decisão. Os dois o amam e vão continuar exercendo os seus papeis”, afirma a psicóloga e escritora Lídia Aratangy.
Evite transparecer culpa. As crianças sentem quando há algo errado e esse é um bom momento para fortalecer ainda mais o vínculo entre vocês.
Além disso, abra espaço para escutar o seu filho. “Como as crianças nem sempre sabem expressar o que sentem, fique atenta a pequenas mudanças de comportamento e deixe o diálogo disponível para que elas contem como se sentem”, orienta Lídia.
Sessões de terapia são indicadas caso o comportamento dos pequenos tenha mudanças bruscas e os pais não saibam muito o que fazer. Porém, se o processo de separação já estiver bem resolvido dentro da família, a probabilidade disso acontecer é menor.
Quando o medo e a insegurança passam, em geral, as crianças conseguem ver os ganhos da situação. “A liberdade de poder falar sobre o assunto e expressar seus sentimentos a ajuda a elaborar uma situação que não cabe a ela mudar”, comenta Riva.
O que fazer durante a transição
Seja direta: deixe claro para o seu pequeno que ele não está sendo abandonado e enfatize os pontos positivos dessa mudança: duas casas, dois quartos, dois presentes de aniversário e até maior atenção de cada um dos pais.
Se ele precisar mudar de escola, comunique o quanto antes as duas instituições. Assim, ambas podem iniciar um trabalho de despedida e recepção. Quando necessário, coloque os orientadores da duas escolas em contato.
É importante que as crianças conheçam o ambiente para os quais vão se mudar. Desta forma, já vão se familiarizando com a casa. Além disso, peça para que elas levem objetos que gostam para o novo lar.
A mãe, se possível, deve participar da mudança. Ajudar a montar o novo quartinho, conhecer a nova escola junto com o pai e visitar os filhos periodicamente deixa a transição mais tranquila.
Como fica a cabeça da mãe?
As mulheres podem sentir um misto de dor, saudade e culpa. Além disso, lidar com a crítica externa não é nada fácil. “Quem mais precisa de ajuda nesse momento é a mãe”, revela Lídia.
Dois dos filhos da Beatriz Francisco foram morar com o pai em outra cidade há cerca de seis meses. “Durante 12 anos, fui mãe e esposa em tempo integral. É inegável a delícia de ter um tempo só pra mim, mas há um fundo amargo na rotina, um vazio. O importante é que eles estão bem e felizes”, avalia.
O bem-estar de todos está ligado à superação de seus conflitos. “Se entendermos que família é um grupo em constante mudança, é mais fácil compreendermos que os pais, mesmo que separados, têm uma nova oportunidade de reforçar os vínculos de afeto com a criança, tão necessários para que ela se sinta segura e acolhida”, afirma Riva.
“A distância é complicada. Não posso estar lá caso eles fiquem doentes, por exemplo. Porém, o tempo que passo com eles tem uma qualidade incrível. Todas as vezes em que vou visitá-los, é como se nós estivéssemos sempre juntos. Não tem drama, manha, choro. A adaptação está sendo muito boa.”, conta Beatriz.
Bateu saudade? Ainda bem que hoje em dia existe a internet e permite que os corações fiquem mais calminhos.
Riva Gelman completa: “Não considero que a questão do gênero seja a mais importante para a reorganização familiar, mas, sim, a capacidade de participar da vida infantil e lhe dar segurança emocional. Tanto a mãe quanto o pai podem assumir esta função”.

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