segunda-feira, 28 de abril de 2014

Estilista mineiro propõe reflexão social ao se inspirar em moradores de rua

São mais de 20 anos no mundo da moda, mas, bastaram três de vida do neto, o pequeno Fernando, para que o estilista mineiro Rogério Lima mudasse o olhar que mantinha sobre sua área de atuação. Nos caminhos que faziam juntos entre o bairro Prado e a Praça Liberdade, em Belo Horizonte, ele percebeu, através da curiosidade que o menino tinha pelos moradores de rua, que nunca havia se aproximado daquelas pessoas.
"Ele via uma menina lavando roupa no chafariz e queria saber o motivo. Olhava para uma pessoa com vestimentas sujas e me perguntava se ela não tomava banho. Para me livrar dos 'porquês', dizia que ele tinha de ir lá e perguntar diretamente a eles", lembra. E continua: "Me chamou atenção o fato de Fernando não hesitar em se aproximar para sanar as dúvidas. Com toda sua pureza, ele 'quebrava o gelo'. Foi quando percebi que nós, adultos, temos medo dessa relação. E, por isso, muitas vezes essas pessoas se tornam seres invisíveis na sociedade."
Lima, que é designer especializado em bolsas, sempre usou elementos reciclados em suas criações. Mas, para a linha que apresenta na 15ª edição do Minas Trend, sentiu a necessidade de expor a reflexão recém-descoberta e se concentrar na sustentabilidade do seu trabalho --não apenas nos materiais, mas no elemento principal desse sistema, o ser humano. "Estas pessoas, que passam horas por dia catando lixo na rua em troca, muitas vezes, de droga, são um problema da sociedade também. Eu busquei um artifício, a minha arte, para falar disso de maneira mais coerente com o mundo."
Assim nasceram mais de 60 modelos de bolsas que estão à venda no Salão de Negócios do Minas Trend --evento do qual o estilista participa desde a primeira edição. Além delas, uma reunião de fotos e vídeos, que foram o ponto de partida para o projeto batizado de "Seres Invisíveis", está em exibição para os visitantes que passam pelo Expominas. "Durante um ano, observei atentamente e tive contato direto com moradores de rua. Quis saber tudo que fazia parte do universo deles para reproduzir em cores, tecidos, materiais e texturas nas minhas peças. Via um cobertor e buscava comprar um tecido parecido para confeccionar a bolsa. Os tons metalizados, por exemplo, são inspirados nas latinhas de bebida que eles recolhem diariamente."
Entrar no universo alheio e criar de maneira cada vez mais exclusiva e sustentável é, para Lima, o futuro da moda. "Não sei lhe dizer hoje quais são os próximos passos desse projeto, mas ele vai continuar, porque temos essa responsabilidade social e o mercado sinaliza que, cada vez mais, as pessoas preferem trabalhos personalizados", conclui.

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